21/04/2007

Fortaleza Desencantada

INTRODUÇÃO: CAMINHO DOS VENTOS

Situado a meio caminho entre as capitanias do Norte e as de Pernambuco e da Bahia, o Ceará se apresentava aos olhos da Coroa Portuguesa como um ponto estratégico de ligação entre essas duas localidades. Essa é a razão maior que levou os colonizadores a se interessarem por uma terra sem produtos de valor comercial, que pudessem desafiar a cobiça da Metrópole[1]. Era importante para Portugal ocupar essa região, pois a costa cearense sofria de calmarias temporárias, que dificultavam a comunicação entre o norte e o leste da colônia. Uma caravela, por exemplo, que saísse do Maranhão para Pernambuco, ou em sentido contrário, teria que esperar uma boa temporada até que os ventos voltassem a soprar favoravelmente. A demora era tanta que há quem diga que melhor seria ir a Lisboa e de lá retornar para as outras capitanias. Portanto, manter uma povoação fortificada nessas terras do meio convinha aos exploradores da riqueza colonial. Fortaleza vai nascer, assim, como um local de baldeação, onde as naus poderiam fazer eventuais aguadas, ou, quando não, deixá-las fundeadas e seguir viagem por terra, até alcançar as águas do rio Parnaíba, entre o Piauí e o Maranhão[2].

É assim que o arquiteto José Liberal de Castro navegou pelas páginas da história da cidade de Fortaleza, para descobrir como ela nasceu e foi edificada ao longo dos tempos. Sua configuração arquitetônica tem raízes históricas. Conhecê-las é obrigação de quem se aventura a falar sobre ela; sobre suas belezas, suas diversas caras e seus problemas. Assim fez Liberal em janeiro de 1968, por ocasião do XIX Congresso Nacional de Botânica. Convidado para proferir uma das palestras do encontro, desenhou o seu plano de fala sobre a temática “Fatores de Localização e de Expansão da Cidade de Fortaleza”. Consciente da confluência epistemológica que o tema envolvia, José Liberal arma-se de precauções metodológicas, para traçar o caminho que o levaria do marco histórico da fundação da cidade de Fortaleza à sua feição arquitetônica de então. A viagem é extremamente agradável. Ela se faz sob o embalo da leveza da prosa, feita crônica histórica. Por isso, ele nada inventa; não deixa o seu espírito se entregar aos devaneios da imaginação; não inventa a história, mas nela se encosta para interrogar, numa linguagem solta e leve, como as coisas aconteceram e por que assim tiveram que acontecer. Sua intenção, declarada desde o início da sua fala, foi a de devolver aos acontecimentos, fossilizados pela história, a sua vivacidade, beleza e interesse que ainda guardam para o presente.

Provido de todos esses mantimentos, José Liberal enche sua mochila de viagem e começa sua longa jornada. Inicia falando da geografia de Fortaleza, para se interrogar como uma cidade, sem a ajuda de nenhum fator geográfico especial, sem nenhuma foz de rio navegável, nenhuma baía, pôde se desenvolver e se tornar a quinta maior metrópole do país. Em seguida, abre a cancela da História e reconstrói todo o percurso pelo qual passou a cidade: desde as tentativas frustradas de construção de aldeamentos, feitas por Pero Coelho e Soares Moreno, passando pela expulsão dos holandeses, até chegar à elevação de Fortaleza à condição de Vila, em 1726, e daí à de cidade, no ano de 1823. Mas, sua viagem não pára por aí não. Ele atravessa o século XIX e chega aos anos 60 do século XX. Na bagagem traz os dois planos de urbanização feitos para a cidade: o de Silva Paulet, de 1812/1823, e o de Adolfo Herbster, de 1875. Este último foi arquiteto da câmara, contratado por seu então presidente, Antônio Rodrigues Ferreira que, por mais de vinte anos de serviços prestados ao Município, a cidade lhe pagaria construindo, em sua homenagem, uma praça para guardar para sempre a sua memória - praça do Ferreira. A partir da planta desenhada por esses dois planos[3], ambos executados no período imperial, José Liberal encontra as raízes da atual configuração urbanística da cidade de Nossa Senhora da Assunção. Só assim ele pode explicar porque Fortaleza não tem muito coisa de especial em arquitetura, que lembre outras cidades como Olinda, Ouro Preto, Mariana, Rio de Janeiro, entre outras.

Assim, ele pôde, naquela palestra de janeiro de 1968, clarear os problemas do presente com a luz que trouxe do passado. É um percurso e tanto! Necessário? Decerto que sim. Uma cidade não se constrói da noite para o dia. O que ela é hoje, muito deve à sua construção e reconstrução histórica. Enfadonho? De modo algum, pois Liberal falou em forma de prosa, à maneira natural; foi uma conversa agradável que, quando encerra, deixa no ar a sensação de que ainda não acabou.

E não acabou mesmo! Aquela palestra virou livro, atravessou o tempo e, hoje, pode ser relembrada pela leitura, como agora o faz o autor deste texto. E o faz com a sensação de como se lá estivera, pois o feitiço que o texto exerce sobre o leitor é tão forte que ele não pode deixar de querer viajar no tempo.

É essa mesma sensação que sente o leitor ao ler “Fortaleza Belle Époque”[4], de Sebastião Rogério Ponte. A descrição dos acontecimentos históricos é tão forte e viva que o leitor tem a impressão de que não está lendo, mas conversando com as personagens que fizeram a Fortaleza dos anos que se estendem de 1860 a 1930. O primeiro contato é com Fortaleza se despindo da sua timidez provinciana, de lugar acanhado, com pouco mais de 16 mil habitantes[5], para ganhar ares de cidade moderna. Em 1880, já se ouvia o barulho dos bondes, de tração animal, puxados pelas ruas da cidade. Descendo para os lados da praia, de dentro de um imenso canteiro de obras se erguia majestosamente o passeio público, com suas avenidas e jardins para as moças e rapazes trocarem flertes e promessas de amor, embalados pela brisa que vinha do mar; distante dali poucos passos. Em 1882, o telégrafo dava as boas vindas. Afinal de contas, uma cidade moderna precisa se comunicar com o mundo, para fazer negócios, política, acordos e tratados. No ano seguinte, 1883, os ricos e as autoridades constituídas já podiam se falar à distância; era o telefone que chegava para acelerar ainda mais a velocidade dos acontecimentos em curso. Para saborear o gosto do progresso, de qualquer canto do coração da cidade, na Praça do Ferreira, foram construídos quatro pontos de café, onde intelectuais e boêmios lá gastavam os seus fins de tardes. Java, Elegante, Iracema e Comércio impregnavam o ar da Praça com o aroma dos sonhos dos jovens insatisfeitos com os rumos da vida da cidade, dos disse-que-disse e outras coisas mais. É justamente no Café Java que Antônio Sales, Adolfo Caminha, Henrique Jorge, com mais 17 companheiros, tiveram a idéia de criar a Padaria Espiritual; um grito de revolta contra o marasmo intelectual da cidade. Foi uma verdadeira antecipação da semana de arte moderna, que aconteceria quase trinta anos depois. E assim, a cidade ia ganhando feições modernas. Em 1897, inaugurava o Mercado de Ferro, considerado um dos melhores do Brasil.

Em meio a tantas mudanças, muitos eram deixados para trás. A Fortaleza, que se modernizava, não era para todos. O progresso tem donos e não gostam de ser incomodados. Por isso, logo cuidaram de limpar a cidade da presença incômoda daqueles que sujavam e enfeavam os lugares daquela “gente de bem”. Quem eram esses invasores? Os loucos, os bêbados, as prostitutas, os pedintes, os retirantes da seca, os lazarentos, os moleques de rua; metade da população e mais algumas cabeças enjeitadas pelo progresso. Para eles, foram construídos o Lazareto da Lagoa Funda, a Santa Casa da Misericórdia, o Asilo de Alienados São Vicente de Paula, o Dispensário dos Pobres, o Asilo de Mendicidade para confinar os idosos e pobres, os abarracamentos para abrigar os que vinham tangidos pela seca. Para os mais revoltados, penitenciárias. Tudo feito nas últimas décadas do século XIX.

A cidade não parava de crescer e de se modernizar. Chega ao século XX, com uma população de mais ou menos 48 mil habitantes. Quase duas vezes maior do que fora na década de setenta do século anterior[6]. Com tamanha explosão demográfica, o número de pessoas enjeitadas pelo progresso crescia ainda mais. O trabalho de assepsia social não podia parar. Em 1903, era construído o Patrocínio dos Menores Pobres. Cinco anos depois, em 1908, a cidade ganhava mais uma casa de limpeza: o Dispensário Infantil, para as mães solteiras depositarem as vítimas dos seus pecados. Para as órfãs e desvalidadas, foi criado o Patronato Maria Auxiliadora para Moças Pobres, em 1922. Em 1928, outro asilo era construído: Asilo Bom Pastor. Para as prostitutas, foi reservado o Arraial Moura Brasil.

Mas, se por um lado, Fortaleza de tudo fazia para esconder o lixo humano deixado pelo progresso, por outro, não parava de ostentar suas vaidades. Em 1906, no auge do domínio da oligarquia Accioly, inaugurava a ponte metálica, para atender o crescimento do comércio de importação e exportação de mercadorias. Quatro anos depois, em 1910, a cidade ganhava o Teatro José de Alencar, uma das mais imponentes obras do governo aciolino. Todo em estrutura metálica, importada da Escócia, o teatro José de Alencar é hoje o mais importante conjunto arquitetônico da cidade.

É assim que Sebastião Ponte reconstrói a história de Fortaleza da Belle Époque. Uma história feita de gente que manda e de gente que obedece; de gente que nasceu para trabalhar e de gente que faz sua riqueza com o suor do rosto dos outros; de gente que não é gente, pois excluída do consumo e do trabalho; de gente rebelde, que usa sua pena para denunciar a opressão, a injustiça, os preconceitos; de gente moleque, que zomba dos costumes e do jeito requintado de se comportar das pessoas finas; de gente que luta contra a exploração. Enfim, de todo tipo de gente que fez Fortaleza ser o que realmente ela o é.

Com tamanha divisão social, a segregação social estava presente até mesmo naquelas obras construídas para ser espaços públicos de lazer e recreação. É o que diz Sebastião Ponte, quando relata que o Passeio Público foi edificado para ser “lugar de recreação para todos ... mas separadamente”. Elaborado em três planos, a área central era freqüentada apenas pelas elites, pelas pessoas de classe, cheias do dinheiro, ao passo que os outros dois planos eram reservados para as classes médias e populares. Obviamente, não existia nenhuma determinação oficial, dividindo o Passeio por tipos de freqüentadores; a separação ocorria naturalmente, como assim acontecia nos cafés da Praça do Ferreira. Lá ia todo tipo de gente. Mas nem todo mundo era bem-visto. Construídos para as pessoas chics da cidade, só quem tinha condições de se vestir à moda francesa, podia se deliciar das coisas que lá eram vendidas.

Gente chic, exibicionista, de gosto refinado e de fala recheada de termos importados da França, não demoraria a cair na boca do deboche. Vem de dentro do próprio seio da elite a zombaria do modo de se vestir e de falar afrancesado. A irreverência escrachada dos padeiros nada poupava. Em seu estatuto de fundação, a Padaria Espiritual declarava como inimigos naturais os padres, os alfaiates e a polícia. Os burgueses eram considerados como uma “bóia; não vive, nem vegeta, flutua”. Proibia que seus associados usassem em suas publicações quaisquer palavras estrangeiras ou animais que não fossem nativos do Brasil. Quem o fizesse, recebia como pena pagar café para todos os associados da Padaria.

O deboche não vinha só dos padeiros, dos intelectuais. O Ceará é terra de gente moleque, que faz pilhéria com tudo que acha engraçado, ridículo. Sebastião Ponte conta as molecagens dos tipos como Bembém Garapeira, popular vendedor de caldo de cana, que adotara o peseudônimo francês, só para tirar sarro com a cara das pessoas chic. Não se sabe como, Bembém juntou dinheiro e foi para a França, para apreciar de perto as maravilhas que se contavam da capital francesa. Quando voltou, dizia pelas ruas que aquilo é que é cidade. Todo mundo lá falava francês, como carregadores e mulheres do povo. Costumava dizer que a única palavra em português que ouviu foi “mercibocu”. Claro que tudo isso não passava de deboche, de sarro com a cara dos cearenses metidos a besta, afrancesados.

Bembém não era o único tipo excêntrico daqueles tempos. Havia muitos outros. Sebastião não os esquece. Narra as suas estripulias pelas ruas da cidade, para mostrar a insatisfação com aquele modo de vida estranho à realidade de Fortaleza. Sua narração é agradável e prazerosa. O leitor tem a impressão de estar diante de um imenso palco de teatro, vendo todos aqueles tipos zombando do modo de ser da Fortaleza Belle Époque. Não dá para ver tudo. As portas do teatro estão abertas, é só sentar-se e começar a leitura.

Das molecagens, Sebastião passa a relatar as revoltas dos explorados e oprimidos pela Fortaleza da Belle Époque. A mais significante é a derrocada do governo aciolino, em 1912. Contra os desmandos de Accioly, a cidade se armou e cercou o palácio do governo, obrigando-o a se render. A cidade toda virou um palco de guerra, com os revoltosos quebrando tudo que encontravam pela frente[7]. Nada foi poupado. Até mesmo os equipamentos urbanos foram destruídos. Era o fim da Fortaleza Belle Époque e sua entrada nos tempos do Estado Novo. Daí por diante, outro autores entram em cena para recuperar a memória de Fortaleza das lutas operárias, das disputas oligárquicas, da “morte” do coronelismo e de sua substituição pelos representantes do capital.

Mas, mesmo que se fique a meio caminho da Fortaleza de hoje, quem deseja conhecê-la, como surgiu e se desenvolveu, não pode deixar de passar por José Liberal de Castro e Sebastião Rogério Ponte. São dois clássicos. Exagero? Decerto que não. Clássicos porque, para compreender a época que analisaram, não se pode prescindir de sua obra para compreender o “espírito do tempo”, como tão bem assim desvela Fortaleza Belle Époque. Clássicos, sim, porque são atuais, para quem deseja produzir novas interpretações, novos modelos teóricos de leitura da realidade de Fortaleza de ontem e de hoje.

É com essa intenção que este texto se aventura a fazer a sua leitura de Fortaleza, tomando como base os trabalhos de José Liberal e Sebastião Ponte. Retomar suas leituras é importante para compreender como ela surgiu e como se desenvolveu, até os dias em que a memória viva possa resgatar a Fortaleza de ontem; seus espaços de saudades que ainda hoje dormem no fundo do baú de todos aqueles que viveram os tempos dos “rabos-de-burros”, dos burburinhos do Abrigo, dos cinemas da Barão do Rio Branco e da praça do Ferreira. “Fortaleza: espaços de saudades” fala disto; é o segundo momento do texto. Em seguida vem “Fortaleza Sitiada”, terceira e última parte do texto, dedicada a análise social, econômica e política de Fortaleza de hoje.
É uma viagem e tanto! Não, caro leitor! Não precisa se assustar, a caminhada não será tão longa assim. Esta introdução já fez grande parte do percurso. Com mais alguns acertos finais, a primeira parte do texto estará pronta. As duas últimas partes poderão demandar um pouco mais de tinta que a primeira, mas nada que, em poucas páginas, não possa ser dito. Portanto, caro leitor, encoste a preguiça e pé na estrada.


[1] Lemenhe, Maria Auxiliadora. As Razões de uma Cidade: conflito de hegemonias. – Fortaleza: Stylus Comunicações, 1991. p. 22: “A reconstrução histórica da ocupação do Ceará revela o papel secundário que a região ocupou nos planos metropolitanos. Se foi conhecida no início do segundo século da colonização, o foi pela circunstância de estar a meio caminho entre a costa leste, já ocupada produtivamente, e o norte, desconhecido e ainda não conquistado para o domínio português, e, o Maranhão, ameaçado pelas incursões de franceses”.
[2] de Castro, José Liberal. Fatores de Localização e de Expansão da Cidade de Fortaleza. – Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade de Fortaleza, 1977; p.24: “O mar, em frente as terras cearenses, principalmente mais para o noroeste da Fortaleza, sofre calmarias temporárias. Os ventos sopram semestralmente em sentidos contrários. Assim, uma caravela que do Pará demandasse a Pernambuco teria muitas vezes de esperar seis meses para partir. Em algumas ocasiões, seria mais rápido ir à Lisboa, para de lá retornar às outras partes do Brasil. Por conseqüência de tal fenômeno, nasceria o interesse de se manter uma povoação fortificada na costa cearense, onde as naus pudessem fazer eventual aguada ou, em caso extremo, descer a terra, continuar a viagem, palmilhando a praia pelo menos até o Punaré, que é o rio Parnaíba, entre o Piauí e o Maranhão. A essa condição especial de local de Baldeação é que a Fortaleza deve a sua existência”.
[3] Na verdade, Adolfo Herbster elaborou duas plantas para Fortaleza. A primeira data de 1859 e segue o mesmo traçado em xadrez de Silva Paulet, quando este pensou a cidade feita de ruas retas, com suas quadras formando esquinas com ângulos retos. A segunda planta veio a público em 1875. Para maiores esclarecimentos ver Aderaldo, Mozart Soriano. A Praça. – Fortaleza: Gráfica Editora R. Esteves Tiprogresso Ltda, 1989.
[4] Ponte, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: Reformas Urbanas e Controle Social (1860-1930). – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
[5] Girão, Raimundo. Fortaleza e a Crônica Histórica. – Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade de Fortaleza, 1983; p. 27: “Relata o Senador Pompeu, em seu Ensaio Estatístico de 1863, que são oito extensas ruas, muitas direitas, espaçosas e calçadas, 960 são as casas de tijolos alinhadas, entre elas estão uns 80 sobrados, dando morada a uma população de 16.000 hab. Esta, no recenseamento de 1872, subirá para 21.372, ocupando 4.380 casas térreas, afora 1.178 casebres”.
[6] Ver nota 6.
[7] Otacílio de Azevedo, que participou da revolta contra o Governo Acciolly, deixou para a História o seguinte relato: “participei da inesquecível passeata em repúdio aos atos vendálicos da polícia do velho oligarca Antônio Pinto Nogueira Acióli que, dias antes, investira contra algumas crianças, esmagando-as sob as patas de seus cavalos (...). Ao dobrar a Rua General Sampaio rumo à Praça do Ferreira, fomos atacados pela cavalaria. O povo reagiu: estavam todos armados e municiados. Das cornijas dos prédios partiam balas de todas as direções. Toda a província virou uma praça de guerra. O povo assaltou as casas de vendas de armas. Assisti ao arrombamento da Casa Villar.
“Era um verdadeiro delírio. Todos alimentados pelo mesmo espírito de revolta, de justiça e de vingança (...).
“Era uma avalancha de homens, mulheres e até crianças (os nossos gavroches...) que avançavam numa onda compacta, derrubando tudo à sua passagem, avançando sempre para frente, não importando os obstáculos. Vi um sujeito arrancar, sozinho, um combustor de luz carbônica da Praça do Ferreira! (...).
“Três dias e três noites as balas sibilaram. Durante todo esse tempo, eu andava no meio dos revoltosos, entusiasmado, julgando-me um personagem de Victor Hugo. Comparava-me a Cimordain. Aquelas mulheres desgraçadas que apupavam os soldados, e mesmo aquelas que acompanhavam os rvoltosos bebendo cachaça, me pareciam as belas vivandeiras das páginas heróicas de O Noventa e Três...” [de Azevedo, Otacílio. Fortaleza descalça; reminiscências. 2ª ed. – Fortaleza, UFC/Casa José de Alencar, 1992., p. 75/76].

Para ler o documento completo, basta acessar o arquivo "Artigo25b.doc", clicando no link abaixo e digitar a senha "economia":

http://discovirtual.uol.com.br/disco_virtual/acopyara/LivrosArtigos

Nenhum comentário: