No segundo semestre de 2005, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Fortaleza (SDE), em parceria com a Secretaria Municipal de Finanças (SEFIN), fez uma pesquisa para avaliar os impactos do Fortal na economia local. Foram desenhadas seis amostras, cada uma delas com seu respectivo instrumento de coleta. Mas, se cada amostra desenhada difere das outras e cada questionário visa colher informações diferentes, como analisar os resultados da pesquisa?
Uma resposta possível seria analisar cada questionário separadamente. Mas, se assim tivesse procedido, a equipe técnica da SDE, que elaborou a pesquisa, não teria como juntar esses "pedaços de análise" num corpo integrado e coerente. Que fazer, então? – Proceder de acordo com o método científico. Como assim? Organizar teoricamente os dados pesquisados. Afinal de contas, como dizia Karl Popper, toda e qualquer experiência realizada por meio da observação depende do ponto de vista teórico sobre o qual tal observação está sendo realizada. Vale dizer, “a teoria domina o trabalho experimental desde seu planejamento inicial até seus toques conclusivos no laboratório”. Se é assim, nenhum dado empírico fala por si, mas pela boca de uma teoria. Conseqüentemente, o que se pergunta ao entrevistado não está escrito em sua testa, mas dentro da cabeça de quem formula a entrevista.
Informada por essa exigência metodológica, a equipe técnica da SDE elaborou os seis questionários de modo tal que eles pudessem responder as seguintes questões: quem são os turistas que visitam Fortaleza? De onde vêm? O que os motiva a vir passar sua temporada de férias na “Terra do sol”? Será essa festa um importante evento para economia, a ponto de provocar um aumento da demanda por hospedagem, um crescimento nas vendas do comércio e do emprego? Ou será que o Fortal só deixou saudades e ressacas?
O espaço não permite responder como cada uma dessa questão foi analisada pela pesquisa. É possível apenas indicar que ela começa constatando que 49,83% das pessoas, que visitam Fortaleza são do sexo masculino, contra 49,50% do sexo feminino. A maioria delas é casada: 56,68% dos homens e 49,50% das mulheres. Sua situação econômica é confortável. Mais de 70% de todos entrevistados ganham acima de cinco salários mínimos. 68,25% têm educação superior.
Mas, de onde vêm essas pessoas desejosas de apreciar "as coisas da Terra do Sol"? A grande maioria delas, 75,92%, vem de outros estados do País. Em segundo lugar, 12,83% são conterrâneos que deixam o interior do Estado para passar as férias na capital. Somente 11,25% vêm de outros países. O que os motiva a vir a Fortaleza é (1) conhecer a cidade, (2) rever parentes e amigos e (3) fazer compras. Este três motivos representam 89,92% de todas as razões que determinam os interesses dos turistas de visitar a cidade de Alencar. São poucos visitantes que manifestaram o desejo de vir a “Terra de Iracema” por causa do Fortal: são apenas 17,25% de todos os entrevistados pela pesquisa. Este percentual cai para 3,42% quando se pergunta pelo motivo exclusivo que os trouxe à Fortaleza. Portanto, menos de 4% dos entrevistados declaram que vieram exclusivamente participar do carnaval fora de época. Não é de admirar, pois, que 77,61% dos foliões do Fortal são fortalezenses; moram e residem na “Terra do Sol”.
Não há dúvida de que o Fortal é uma festa local, feita para cearense ver. Daí a razão porque ela tem pouco impacto sobre a economia da cidade, se comparada com outras atividades econômicas. Tudo indica que ela é uma "pequena bolha" na economia local, que dura apenas quatro dias. É claro que ela é antecipada por gastos em investimentos, tais como construção de infra-estrutura para realização do evento, contratação de trios elétricos, de seguranças, compra de materiais etc. Mas, como se trata de gastos voltados para a realização de uma atividade passageira, seu efeito multiplicador sobre a economia é mínimo. Com efeito, a pesquisa mostrou, para o caso dos restaurantes, que os meses de dezembro e janeiro são os mais movimentados. Comportamento semelhante acontece com o ramo de hotelaria. As maiores taxas de ocupação ocorrem nos meses de janeiro, julho, novembro e dezembro.
Tudo indica, pois, que o Fortal é uma festa que não deixa muita coisa, depois que passa. Quando a festa acaba, os ambulantes desmontam suas barracas e vão à procura de outros eventos. Os seguranças voltam a oferecer seus serviços em outros lugares da cidade; a mão de obra empregada na construção da infra-estrutura é despedida e volta a ofertar sua força de trabalho no mercado; os trios elétricos, vindos de fora, despedem-se, fecham suas contas nos hotéis, e voltam para sua terra natal, ou vão para outros Estados, para animar outras micaretas.
A despeito do pouco impacto econômico do Fortal, não se pode desconsiderar o seu efeito quando visto como um evento dentre outros de atração turística. Neste sentido, o fortal contribui para criar uma atmosfera positiva para a economia, muito embora o seu impacto, considerado isoladamente, seja pequeno. Mesmo assim, o Fortal deixou para os cofres do Município, em 2005, 180 mil reais, segundo documento da SEFIN. Muito pouco! Decerto que sim. Não é sem razão que a SEFIN vem trabalhando no sentido de otimizar a arrecadação do Município com Diversões Públicas. Sua intenção é a de criar uma metodologia de controle e aprimoramento das ações voltadas para potencializar o poder de arrecadação do Município com eventos de entretenimentos públicos. Espera-se que, assim, a micareta possa, no futuro, trazer maiores dividendos financeiros para a Prefeitura. Uma questão metodológica? – Que seja!
21/04/2007
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