07/05/2007

ESCRAVOS DA CIÊNCIA - OS PORÕES DA CRISE DO TRABALHO

01. PROCESSO DE TRABALHO E SUA TRANSFORMAÇÃO EM PROCESSO DE PRODUÇÃO

Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza (...). Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio (...). Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele concebeu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente (...). Além do esforço exigido dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita, como jogo de sua próprias forças físicas e espirituais (Marx, O Capital; Liv. I, cap. V).



Não há trabalho sem a mediação do conhecimento. O homem não trabalha instintivamente, como o fazem a abelha e a aranha. Para dominar a natureza e obrigá-la a trabalhar para si, primeiro, tem de conhecer suas leis, sem o que não teria como antecipar mentalmente o produto da sua atividade, conscientemente dirigida para um fim determinado. Antes de construir sua casa, o arquiteto a projeta na forma de desenho, para então poder materializá-la como uma coisa fora de si, da sua mente.
Milhares de anos transcorreram, para que o homem pudesse fazer do conhecimento uma mediação necessária, para dominar a natureza. No inicio, atua como servo, ao aceitar passivamente suas leis, como uma força externa que o obrigava a elas se submeter. Foi como aprendeu a dominá-la. Agiu com astúcia: para subjugá-la ao seu poder, submeteu-se a ela, aprendeu sua racionalidade e, assim, fez-se dela senhor, ao usar suas leis para fazê-la trabalhar para si. Daí em diante tornou-se até mesmo capaz de criar “novas naturezas”[1], pela combinação de seus elementos imediatamente dados à experimentação científica. É nesse sentido que o pai do empirismo, Francis Bacon, proclama a ciência como poder, isto é: disposição do homem sobre a natureza[2]. Seus “Aforismos Sobre a Interpretação da Natureza e o Reino do Homem” deixam claro que poder e conhecimento são sinônimos. Conseqüentemente,

o verdadeiro objetivo e serventia da ciência não reside nos discursos plausíveis, deleitantes, veneráveis que fazem efeito, ou em quaisquer argumentos intuitivamente evidentes, mas sim no desempenho e no trabalho, na descoberta dos fatos particulares anteriormente desconhecidos que nos auxiliem e nos equipem melhor na vida[3].

O casamento do conhecimento com a disposição sobre a natureza das coisas consuma-se com a incorporação das ciências ao processo de trabalho. Desse casamento feliz resultou a transformação das ciências numa verdadeira “força produtiva”, a ponto de dispensar o homem como “instrumento de produção”. Nos Grundrisse, obra que consumiu 15 anos de pesquisa, e na qual Marx lança as bases da construção de sua crítica à economia política, encontram-se textos nos quais o autor de O Capital investiga a possibilidade de, no futuro, a criação da riqueza vir a se tornar
menos dependente do tempo de trabalho e do quantum de trabalho empregado, do que do poder dos agentes que são postos em movimento durante o tempo de trabalho, poder (...) [que] não guarda mais nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que custa a sua produção (...). [doravante, a criação da riqueza efetiva] depende antes da situação geral da ciência, do progresso da tecnologia, ou da aplicação da ciência na produção[4].

Com a paciência de quem conhece a densidade dos textos dos Grundrisse (Borrador), Ruy Fausto debruça-se sobre eles para desvendar toda sua riqueza analítica. Com esmero e cuidado exegético, sempre intercalando expressões utilizadas por Marx, Fausto precisa que esses textos prospectam profundas modificações por que deve passar o sistema em seu desenvolvimento. No limite, o processo de produção da riqueza deverá se intelectualizar de tal forma que, nele,

já não se tem mais um objeto artificial. Antes uma espécie de objeto intelectual ou espiritual: é o logos – que é entretanto o logos da natureza assimilado pelo intelecto – que é posto no processo de produção. Com isto, a ruptura entre trabalho vivo e trabalho morto é relativizada, a máquina passa a ser uma espécie de força de trabalho (intelectual) no sentido de que ela não necessita mais (ou quase) de nenhum trabalho para ser vivificada. O autômato é agora espiritual, não simples autômato “vivo”[5].

Segundo Marx, com a apropriação do “logos da natureza” pelo capital, a relação homem-máquina deverá mudar radicalmente. Ainda que ele não afirme que essa mudança possa verdadeiramente libertar o homem do trabalho, entretanto, defende a possibilidade do fim da subordinação material do trabalho à máquina. Vale dizer: o trabalhador deixaria de ser um apêndice da máquina, um vigia do processo de trabalho, para se tornar “sujeito” do processo de produção da riqueza.
Mas, se é verdade que as prospecções pensadas por Marx sejam, hoje, uma realidade, convém pensá-las com certa reserva. Melhor seria pensar numa transformação do trabalhador da condição de apêndice da máquina em um servidor do novo mecanismo, como acontece com o trabalhador que faz longas jornadas de trabalho diante de um computador[6].
Obviamente, tais prospecções, pensadas por Marx, não são um mero exercício especulativo. Pelo contrário, trata-se de possibilidades reais criadas pela grande indústria, que, praticamente, já havia eliminado o trabalho virtuoso do processo de produção da riqueza. Com efeito, nessa forma de produção de mercadorias, o processo de trabalho passa a ser controlado pelas ciências, e não mais pela destreza e habilidade do trabalhador, como acontecia na cooperação simples e na manufatura[7]. Na verdade, a grande indústria transformou o processo de trabalho em processo de produção, no sentido de que o trabalho deixa de ser sua unidade dominante[8]. Por isso, Marx via a grande indústria como uma forma de produção de mercadorias, na qual estavam presentes todas as condições para superar as limitações do trabalhador como instrumento de produção. Afinal, o homem, segundo ele, por sua própria natureza, é incapaz de realizar movimentos uniformes e contínuos, tão perfeitos quantos os que a máquina pode fazer[9].
A transformação do processo de trabalho em processo de produção é uma necessidade imanente ao próprio movimento do capital. Com efeito, para se valorizar, o capital precisa explorar trabalho vivo e, ao mesmo tempo, introduzir inovações técnicas que aumentem a produtividade do trabalho; isto é: reduzam o valor da força de trabalho. Conseqüentemente, o aumento da produtividade do trabalho só vale a pena se a economia de capital variável for maior do que os gastos de investimento realizados com capital constante. Enquanto essa diferença se mantiver positiva, o capital não cessa de revolucionar o modo de produzir. Daí sua propensão a transformar a produção da riqueza numa necessidade dependente do aumento do tempo de trabalho morto à custa do tempo de trabalho vivo. Não sem razão, Marx define o capital como sendo ele próprio a contradição em processo,

porque tende a reduzir o tempo de trabalho ao mínimo, enquanto põe, por outro lado, o tempo de trabalho como única medida e fonte de riqueza. Diminui, assim, o tempo de trabalho na forma de tempo de trabalho necessário, para aumentá-lo na forma de tempo excedente; põe, portanto, em medida crescente, o trabalho excedente como condição – questão de vida ou morte - para o trabalho necessário. Por um lado, conjura todos os poderes da ciência e da natureza, bem como os da cooperação e do intercâmbio social, para fazer com que a criação da riqueza se torne (relativamente) independente do tempo de trabalho nela empregado. Por outro lado, quer medir essas forças sociais gigantescas, assim criadas, pelo tempo de trabalho, e as conter nos limites exigíveis, para que o valor criado se conserve como valor. Para o capital, as forças produtivas e as relações sociais (...) aparecem apenas como meios, e para ele só são meios para produzir a partir de sua base limitada. Na realidade, constituem as condições materiais para fazê-lo explodir[10].


A tendência do capital, portanto, implícita em seu próprio conceito, é a de tornar a criação da riqueza cada vez mais independente do tempo de trabalho empregado em sua produção. Disso não se pode duvidar. Prova maior são as mutações tecnológicas por que passa a indústria. No caso das montadoras brasileiras, estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que nos anos 80, para uma capacidade de produção de um milhão e quinhentos mil veículos, essa indústria empregava 140 mil trabalhadores. Hoje, para uma capacidade de produção de três milhões de veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores. A produção duplicou, enquanto o número de trabalhadores, praticamente, caiu pela metade.
Infelizmente, exemplos são apenas ilustrações de casos particulares. As ciências trabalham com conceitos, com generalidades. Pela sua própria natureza, os exemplos não são capazes de traduzir o que há de geral e dominantes nos fenômenos. Melhor, portanto, continuar a investigar as leis gerais de tendência do movimento do capital, que apontam para uma implosão do tempo de trabalho, na medida em que o processo de produção é crescentemente intelectualizado pela aplicação das forças da ciência na produção da riqueza. Afinal, o pleno desenvolvimento do capital, esclarece Marx nos textos dos Grundrisse, só acontece quando o processo inteiro de produção não aparece como subsumido à habilidade direta do trabalhador, mas, sim, à aplicação tecnológica da ciência. Dar um caráter científico à produção, é, portanto, a tendência do capital, que reduz o trabalho a um mero momento desse processo. Nessas condições, ainda de acordo com os textos dos Grundrisse, o trabalhador torna-se supérfluo, na medida em que a ciência transforma-se numa verdadeira força produtiva[11].
É claro que a natureza não produz máquinas, aviões, carros, prédios etc. Tudo isso é produto da indústria humana. Como diria Marx, “material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza ou de sua ação sobre ela. São órgãos do cérebro humano criados pela mão do homem, força objetivada do conhecimento”[12].
A razão está com Marx. Tudo indica que a produção da riqueza, hoje, faz-se muito mais pela compreensão da natureza, como produto das forças objetivadas do conhecimento, do que pelo simples gasto de energia durante o tempo em que o trabalhador trabalha. Prova disso é a redução do tempo de rotação do capital[13], do tempo em que leva o capital-valor adiantado, como investimento, até o momento em que esse mesmo valor retorna acrescido de mais-valor. Atualmente, a redução do tempo de circulação do capital chegou ao ponto de transformar o tempo de valorização do valor em "momentos sem duração". Hoje as empresas vendem antes de produzirem. É a "implosão" do tempo de rotação do valor.
Mas atenção! A "implosão" do tempo de rotação só foi possível graças à revolução da microeletrônica e da informática, que permitiu a aplicação de computadores na indústria, na pesquisa científica, nas comunicações, nos transportes, na informação e no campo dos serviços. Graças a isso, o processo de produção do valor passa a ser cada vez mais monitorado via telecomando. De fora dos muros das empresas, o trabalhador pode, agora, alimentar o processo de produção com informações sobre a hora e local mais vantajosos para tomada de decisão sobre os investimentos.
Com o monitoramento telecomandado do processo de produção, o capital financeiro tornou-se o centro cerebral de todo o processo de valorização, porque pode, agora, vigiar e comandar os investimentos de qualquer lugar do mundo, deslocando massas de valor de um negócio para outro, sempre que as oscilações das moedas nacionais abrem oportunidades de ganhos extras. Não sem razão, o processo de produção do valor transforma-se numa grande montanha de papel, em que são registradas as informações sobre as diferentes taxas de câmbios, de juros, e do valor das ações em todo o mundo. Daí a necessidade de o capital contar com uma rede de profissionais espalhados por todo o mundo, de plantão 24 horas por dia, sempre prontos a informar, a qualquer tempo, a melhor oportunidade de investimento.
Com a "implosão" do tempo de rotação do valor, o capital demoliu as barreiras que limitavam o consumo da força de trabalho aos muros das fábricas[14]. Agora, de qualquer lugar do Planeta, em qualquer hora do dia e da noite, o trabalhador pode monitorar o processo de valorização do valor. Pode, porque o processo de trabalho saiu de dentro das fábricas para ganhar as ruas, os lares, os espaços públicos, as escolas. De qualquer lugar, o indivíduo tem poder para alimentar o processo de produção com informações sobre fatos políticos, bélicos ou comerciais que podem, direta ou indiretamente, afetar os negócios.

2. FIM DA MALDIÇÃO BÍBLICA?

Nesse contexto, entra em cena a voz de uma consciência de ruptura, que passa a advogar a idéia de que o mundo mudou e já não guarda mais nenhum vestígio do que fora no passado. É interessante facultar-lhe a palavra; deixá-la falar, para que exponha sua leitura da realidade contemporânea. Com certa razão, mas tão-somente assim ressalvado, essa consciência entende que, hoje, o principal instrumento de produção não é mais o capital, a terra ou a mão-de-obra, mas, sim, o conhecimento. A aplicação da tecnologia da informação, como eixo fundante da produção, intelectualizou de tal forma o processo produtivo, que duas pessoas, como assim exemplifica Salm, “com qualificação e motivações distintas, podem extrair resultados muito diferentes da mesma máquina”[15]
Salm vai mais longe ainda. Segundo ele, a estrutura organizacional do processo de produção não tem mais como base a divisão técnica do trabalho enrijecida, em que os trabalhadores eram dispostos em ocupações fixas predeterminadas pela gerência das empresas. Julga, pois, que diferentemente do que foi no passado, “concepção, programação, manutenção, controle de qualidade, ritmo, não são mais atribuições exclusivas deste ou daquele segmento da estrutura ocupacional”[16]. É quando, então, ainda de acordo com Salm, “a comunicação passa a ter uma importância crucial, antes quase dispensável, quando o trabalhador se limitava a cumprir, de preferência calado, as tarefas ditadas pela gerência”[17].
Salm não está só. Muitos pensam como ele. Hammer, Champy, Toffler, Drucker, todos acreditam que a reestruturação da economia está fazendo surgir novas formas de organização e gerenciamento do processo de trabalho[18], que não lembram mais os princípios de padronização, especialização, sincronização e de centralização, que configuravam e alicerçavam a estruturação do processo produtivo[19]. No lugar da produção padronizada, surge a produção flexível, requerendo máquinas mais flexíveis e de finalidades genéricas, operadas por trabalhadores polivalentes e altamente qualificados, com alto grau de responsabilidade e de autonomia. Nasce, assim, o trabalhador detentor de conhecimentos teóricos gerais, que desenvolve raciocínios lógico-matemáticos e usa a geografia, a história e outras ciências para discutir os problemas da sua empresa. Numa palavra, para a consciência de ruptura, é a morte do trabalhador especializado, isto é, do trabalhador adestrado a desempenhar uma mesma é única tarefa por toda a vida.
Feliz, a consciência de ruptura alegra-se com a morte trabalhador especializado e alça vôos pelo mundo, para regozijar-se com a idéia de que, hoje, não há mais espaço para o trabalho rotineiro e padronizado, tal como assim pensava Taylor em seus Princípios de Administração Científica[20]. Vai mais longe ainda, para afirmar, em alto e bom som, que não só a padronização e a rotinização são coisas do passado, como também o é a solidariedade de classe, que unia os trabalhadores em torno de um mesmo projeto de luta. Decreta-se, assim, o fim da luta de classes, que perde sentido com o aparecimento do "trabalhador do conhecimento" [21], que não mais precisa da mediação de sindicatos e/ou partidos políticos, para representá-lo nas empresas. Ele é, agora, cidadão consciente de seus direitos e obrigações e por isso pode dispensar a intervenção de instituições que outrora decidiam por ele o que hoje aprendeu a fazer melhor do que ninguém.
Se tudo isso é verdade, quer dizer, então, que Marx tinha razão? Suas prospecções sobre o desenvolvimento do capitalismo são, hoje, uma realidade? Noutras palavras, é possível celebrar a libertação material e, até mesmo formal, do trabalhador do domínio despótico do capital? Ou, o que é a mesma coisa: o trabalhador se tornou sujeito do processo de trabalho, no sentido de que a produção da riqueza passou a depender fundamentalmente do conhecimento? Em síntese, teria o homem se libertado da maldição bíblica, que o condenou a viver do suor do seu próprio rosto?

3. NEM TUDO QUE PARECE SER, É
3.1. PRESSA, INIMIGA DA VERDADE

Marx não é um intelectual inconseqüente. Não pensa à maneira como procedem as aranhas, que de suas glândulas ou fiandeiras extraem a seda com a qual constroem suas teias. Suas prospecções não são produto de sua imaginação, como que produzidas por um ato especulativo arbitrário. Muito pelo contrário; para ele, tratava-se de possibilidades reais, que latejavam sob o impulso do capital de revolucionar, permanentemente, o modo de produzir. Como o capital é a contradição em processo, é-lhe inerente a força que o leva a pôr e repor, de forma renovada, as condições sociais e materiais de sua valorização. Esse impulso imanente o leva a superar a cooperação simples, forma menos desenvolvida de produção de mercadorias, substituindo-a pela manufatura e esta pela grande indústria. Nesta ultima forma transforma o processo de trabalho em processo de produção e, assim, faz da ciência uma verdadeira força produtiva. Nessa sucessão histórica, as análises de O Capital apontavam para a possibilidade de que a grande indústria poderia ser a última forma de produção de mercadorias, que deveria ser substituída pela forma socialista de produção. Acontece que Marx não é um teórico da necessidade absoluta, que advogava a idéia de que tudo que é ou deve ser já estaria desde sempre para sempre determinado. Pelo contrário, ele era um crítico do fatalismo simplista[22]. Nesse sentido, não descartava a possibilidade de um possível prolongamento da vida do sistema para além da grande indústria, como assim dão a entender suas prospecções nos textos dos Grundrisse.
Foi o que de fato aconteceu: a grande indústria foi superada. Desapareceu nas noites do tempo a clássica divisão do trabalho, própria dessa forma de produção de mercadorias, na qual as empresas empregavam seus capitais em setores distintos da economia (comércio, indústria, serviços, bancos etc), e aí permaneciam por toda a vida. Essa divisão segmentada e petrificada ficou para trás. Para evitar que seus concorrentes se apropriem de parte do valor por ela produzida[23], hoje, uma mesma empresa opera em todos os ramos de produção da economia a um só tempo. Os grandes conglomerados são uma prova disso. Um grande grupo industrial, por exemplo, concentra grandes somas de capitais no comércio atacadista, varejista e conta com suas próprias companhias de financiamento. Cada grupo de capital é, na verdade, o que expressa o conceito de capital industrial[24]. Ou seja, cada empresa passa a existir como encarnação individual de todas as formas de existência de capital: capital-dinheiro, capital produtivo e capital-mercadoria.
Essa revolução da divisão social do trabalho prolonga-se na organização interna do processo produtivo das empresas. Neste âmbito, o capital reinventa novas formas de organização e gerenciamento do processo de trabalho para racionalizar e potencializar o consumo produtivo da força de trabalho. É quando ocorre o que a sociologia do trabalho chama de reestruturação produtiva. Com seus programas de qualidade total, reengenharia ou produção enxuta, a reestruturação produtiva transforma o trabalhador especializado [e que fora adestrado para desempenhar uma única e mesma tarefa] em um trabalhador coletivo, capaz de realizar a totalidade das operações do processo de trabalho. Vale dizer: ao invés de uma divisão rígida de ocupações, as empresas buscam um trabalhador flexível, que possa executar diferentes tarefas. Assim como as empresas foram levadas a reconstituir, na prática, a unidade das diferentes formas de existência do capital, a reestruturação produtiva, com seus novos métodos e técnicas de contratação e gerenciamento, recompõe a unidade das diferentes fases do processo de trabalho, recriando um novo tipo de trabalhador coletivo combinado. Este não mais existe como elemento de um coletivo em que ele era apenas parte, ligada às demais por meio da malha da divisão técnica de ocupações. O novo trabalhador coletivo combinado existe agora na figura de cada trabalhador particular que, ao lado dos demais, encarna e realiza a unidade das diferentes fases do processo produtivo. Noutros termos, cada trabalhador individual é um trabalhador coletivo combinado.
Tais transformações, por que passou a divisão social e técnica do trabalho, implodiram as bases sobre as quais operava a grande indústria, substituindo-a por uma outra forma de produção de mercadorias bem superior e mais adequada ao processo de acumulação de capital. Nela, todas as potencialidades do capital parecem plenamente desenvolvidas. Tão desenvolvida, que não seria descabido afirmar que o capital cessou de se tornar o que ele mesmo é: contradição em processo[25]. Com efeito, a configuração atual do modo de produzir lembra o que o capital era no início do seu desenvolvimento, quando a cooperação simples aparecia como sua primeira forma de produção de mercadoria. Nessa forma embrionária do seu desenvolvimento, cada capitalista era obrigado, primeiro, a adiantar seu capital-dinheiro para comprar as mercadorias, para, então, com elas, produzir novas mercadorias. Só então, podia se dirigir ao mercado, agora, na função de comerciante, para vendê-las e, assim, reembolsar o seu capital inicial, acrescido da mais-valia, para recomeçar tudo de novo. Agora, as diversas formas de existência do capital tornaram-se momentos sem duração de um mesmo movimento: a valorização do valor. Vale dizer: o ciclo de valorização não é mais intermitente. Suas diversas formas de existência não estão mais separadas no tempo: fase de compras das matérias-primas; tempo de espera para transformá-las em novas mercadorias (fase de produção) e, finalmente, sua venda, Hoje, o capital vende antes mesmo de produzir. Os conglomerados operam simultaneamente em toda cadeia do valor, pois distribuem suas massas de capital por todas as fases do processo de valorização. Assim sendo, realizam o que era próprio do movimento social (global) do capital, na medida em que cada forma de existência do capital é, doravante, partição de um mesmo capital individual, que se divide, sem perder sua unidade, em capital-dinheiro, capital produtivo e capital-mercadoria. Bem diferente, por conseguinte, da forma de produzir da grande indústria, na qual o capital-dinheiro era um negócio particular dos bancos; o capital produtivo, dos industriais e o capital-mercadoria, dos comerciantes.
Essa nova forma de produção de mercadorias tem um nome: cooperação complexa[26]. Ela é o retorno do capital à forma de cooperação simples, na qual estavam contidas todas suas potencialidades e que não poderiam realizar-se plenamente dentro das formas estabelecidas de existência que a antecederam: a manufatura e a grande indústria.
Se é verdade, como foi afirmado anteriormente, que a cooperação complexa “implodiu” o tempo de rotação de capital, então, as prospecções realizadas por Marx estavam certas? À primeira vista, tudo indica que sim. Diferentemente da grande indústria, na cooperação complexa, a produção da riqueza se faz pela compreensão da natureza, tal qual assim anteciparam as análises dos textos dos Grundrisse. Para falar de acordo com o seu autor, hoje, é o logos da natureza que foi apropriado pelo capital, no sentido de que sua compreensão está objetivada na máquina. Não é por menos que Fausto define as novas máquinas, nos tempos em que ele designa com a expressão Pós-Grande Indústria, de “força de trabalho intelectual”. E não sem razão, pois, hoje, as grandes empresas transformaram o layout de suas estruturas produtivas num gigantesco esqueleto mecânico, que se move praticamente sozinho, no qual se pode caminhar por suas vértebras, metros e mais metros, sem encontrar uma viva alma. Se a tendência do capital é a de trabalhar a favor de sua própria destruição, com certeza, deu um grande passo nessa direção. Faltam apenas os “coveiros” decidirem enterrá-lo definitivamente.
Quer dizer, então, que Marx tinha razão? A apropriação do logos da natureza pelo capital libertou o trabalhador da maldição bíblica, que o obrigava a viver do suor do seu próprio rosto? Teria, pois, o trabalhador se libertado da condição de apêndice da máquina e se transformado em sujeito do processo de produção? Ou, como imagina a consciência de ruptura, é possível celebrar a morta do trabalhador especializado e, em seu lugar, dar boas-vindas ao trabalhador do conhecimento?
A pressa é inimiga da verdade. Ela nunca se deixa revelar à primeira vista. Apesar das evidências empíricas, parece cedo para decretar o fim da maldição bíblica ou a morte do trabalhador especializado. Por isso, para os que endossam, sem restrições, as prospecções feitas por Marx, é bom lembrar que o que é possível poderá ocorrer de outra forma. Sua Economia Política não é uma “ciência profética”. n’O Capital, ele não deixa dúvidas quanto a isso. Nessa obra, por exemplo, ele não profetizou que a luta de classes, necessariamente, resultaria na destruição do capitalismo, mas, sim, demonstrou que ela é uma necessidade, não só para defender os interesses imediatos da classe trabalhadora, como também para acabar com a exploração do homem pelo homem. Não determinou seus resultados nem seu desfecho final. Não poderia ser de outra maneira, pois, para ele, é na luta que se dá o desenlace de sua crítica ao sistema produtor de mercadorias. São dessa natureza as prospecções que ele realiza nos Grundrisse. Elas são sempre relativas, marcadas pela incerteza de se realmente virão a acontecer tal como antecipadas no plano especulativo.
Mesmo assim, não há como negar: as prospecções que realiza nessa obra não são de todo descabidas. Hoje, a produção da riqueza, mais do que nunca, faz-se pela compreensão da natureza, numa dimensão tão avançada que não lembra mais como o era na época da grande indústria. Com efeito, a aplicação da genética, da física, da química etc, na produção da riqueza, foi tão longe a ponto de fazer coincidir o período de trabalho com o tempo de produção, isto é, tempo durante o qual o capital se encontra no processo de produção. Como se sabe, nem todo o tempo em que o capital se encontra no processo de produção é transformado, pelo trabalho, em produtos acabados. Por exemplo, o vinho produzido requer um tempo de armazenamento, até que possa ser vendido. Neste período, o tempo de trabalho se prolonga nas atividades de armazenamento e acondicionamento do produto. Daí a tendência de o capital em fazê-los coincidir, para que o tempo de rotação, isto é, de valorização do valor, seja o mais breve possível. n’O Capital, livro II, Marx fornece uma séria de exemplos dessa tendência do capital. Referindo-se à engorda de ovelhas, mostra como o capital reduziu o tempo em que elas estariam prontas para o abate. Antes da aplicação do melhoramento genético para a sua criação, diz ele, era

naturalmente impossível fornecer um animal de 5 anos antes do término de 5 anos. Mas o que é possível fazer, dentro de certos limites é, por métodos diferentes de tratamento, terminar de criar animais em menos tempo para sua destinação. Isso foi conseguido, a saber, por Bakewell. Antigamente, as ovelhas inglesas, assim como as francesas ainda em 1855, não estavam prontas para serem abatidas antes do quarto ou quinto ano. Com o sistema e Bakewell, uma ovelha de um ano já pode ir para engorda e, em todo caso, já está completamente crescida antes do fim do segundo ano. Mediante cuidadosa seleção de matrizes, Bakewell, arrendatário de Dishley Grange, reduziu o esqueleto das ovelhas ao mínimo necessário à existência. Suas ovelhas eram chamadas de New Leicester. ‘O criador pode agora mandar 3 ovelhas ao mercado no mesmo tempo em que antigamente preparava 1; elas são mais largas, mais arrendadas e têm desenvolvimento maior naquelas partes que dão carne. Quase todo seu peso é pura carne’[27].

Se vivo fosse, certamente, Marx ficaria embasbacado com a revolução da genética e sua aplicação na produção de animais, plantas e, até mesmo, na de seres humanos. Não há dúvida de que, no mundo de hoje, o processo de produção faz-se pela compreensão da natureza. Nisso, suas prospecções estavam mais do que certas. Infelizmente, todo esse desenvolvimento não foi capaz de libertar o trabalhador, como assim supunha ele, da dependência material da máquina. Ela continua dela escravo, mesmo que a máquina tenha se transformado em força objetivada do conhecimento, numa “força de trabalho intelectual”. É bastante lembrar as longas jornadas de trabalho dos caixas de supermercados, que consomem todo o seu dia de trabalho, muitas vezes de pé, mostrando a uma máquina o código de barra, para que ela possa ler e registrar o valor da mercadoria. Um verdadeiro contabilista eletrônico, que não erra nem deixa que o seu servidor (o trabalhador) se engane ou possa cometer algum furto.
Quanto aos corifeus da consciência de ruptura, estes nada mais fazem do que expressar de forma doutrinária as revoluções operadas pelo capital. Diferentemente de Marx, que faz do processo de trabalho em geral o lugar de aplicação dos resultados produzidos pelas ciências, aqueles tomam a empresa como unidade de análise para desenvolverem sua sociologia do trabalho. Confundem, assim, o desenvolvimento das ciências com a sua aplicação. Ora, o fazer ciências é uma atividade que se desenvolve fora dos muros das empresas. Acontece, principalmente, nas grandes universidades públicas, em institutos, como o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos; no Brasil, o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica(ITA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e em agências como a NASA, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), para citar apenas essas instituições. Digno de nota é o Projeto Genoma, de iniciativa do setor público, liderado por James Watson, na época chefe do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH). Numerosas escolas, universidades e laboratórios participam do projeto, usando recursos do NIH e do Departamento de Energia norte-americano. Só este órgão financia cerca de 200 investigadores nos Estados Unidos.
É sobre o orçamento público, portanto, que recai o maior ônus da pesquisa científica e tecnológica. Daí os resultados das pesquisas fluem para a esfera das empresas privadas[28]. Estas se apropriam dos resultados das pesquisas desenvolvidas por instituições públicas e até mesmo privadas, para aplicá-las na produção de suas mercadorias. Não precisam, pois, e nem dispõem de recursos tão vultosos, para investir no desenvolvimento das ciências[29]. Apropriam-se dos seus resultados, para convertê-los em novas forças produtivas e com maior produtividade. Há, portanto, uma divisão de trabalho bem clara: cabe ao Estado e a outras instituições de pesquisas desenvolverem a produção científica e às empresas produtoras de mercadorias a sua aplicação.
A produção das ciências, portanto, dá-se fora do tempo de trabalho empregado na produção das mercadorias. A distância entre a produção do conhecimento técnico-científico e sua aplicação é incomensuravelmente maior da que a que separa a gerência do “chão de fábrica”. Na aplicação dos resultados das pesquisas científicas pelas empresas, todo o trabalho extremamente complexo de mediação na produção do conhecimento é praticamente eliminado. Às empresas interessam tão-somente a sua aplicação imediata. É mais ou menos o que acontece com a produção de um software e sua utilização por uma empresa. A esta importa tão-somente conhecer as regras do seu funcionamento, não como foram produzidas. Sua preocupação é operacional; basta-lhe que seja produtivo, que dê resultados.
As empresas não precisam, portanto, contar no seu quadro de pessoal com um Galileu, um Newton ou um Einstein. Precisam, sim, de alguns engenheiros, químicos e físicos, que saibam fazer uso do que esses monstros sagrados das ciências produziram. Um astronauta e um piloto de um supersônico, por exemplo, operam suas naves, sem tê-las produzido. São treinados para delas fazer uso. Pouco ou quase nada sabem de como o desenvolvimento das ciências tornou possível suas atividades. São operadores de mecanismos extremamente complexos, que requerem, para sua operacionalização, conhecimentos simplificados.
Assim acontece no interior das empresas. Quanto mais complexo é o processo de produção, mais simples é o seu manejo por parte dos trabalhadores. Uma meia dúzia de especialistas é suficiente para administrar um exército de trabalhadores, relativamente adestrados para manusear equipamentos extremamente sofisticados. Prova disto é just-in-time (JIT) e os Centros de Qualidade Total (CQT), que estão longe de representar o fim das tarefas rotineiras e repetitivas[30]. Não é diferente o que se passa com o uso de equipamentos de automação de projetos assistidos por computador, como Computer Aided Desing (CAD) e Computer Aided Manufacturing (CAD). Para operar esses equipamentos, extremamente sofisticados, os trabalhadores não precisam mais do que de um nível de educação básica, que lhes permita ler e executar o que tais equipamentos deles exigem. Para isso, existe o Controle Estatístico de Processo (CEP), para medir e monitorar um produto durante toda a fase de sua produção. Uma prancheta e uma caneta são suficientes para que o operador da máquina tome as anotações necessárias e, assim, possa enviá-las para a análise do departamento de controle de qualidade[31].
Agora, tudo se esclarece. A divisão de trabalho entre a produção do conhecimento técnico-científico e sua aplicação no interior das empresas é diferente. A primeira se assenta na propriedade do conhecimento; a segunda, no poder de quem decide, isto é: na propriedade dos meios de produção. É, portanto, um grande equívoco eleger como unidade de análise a empresa para investigar a divisão entre trabalho intelectual e manual. As unidades de capital, como lugar de aplicação do conhecimento produzido pelas ciências, fundam-se numa divisão técnica de trabalho, em que, necessariamente, cabe à gerência o posto de comando, cuja função é a de extrair o máximo possível de produtividade dos seus comandados. Para tanto, quanto mais simplificado é o processo de produção, mais trabalho os gerentes arrancam dos seus trabalhadores; quanto menos pensam, mais produtivos se tornam.
A divisão entre trabalho comandado e trabalho de comando é, portanto, da natureza mesmo do capital. Vem desde os tempos da manufatura e se prolonga nas formas de manufatura comandada por máquinas inteligentes. Neste sentido, as críticas às formas tayloristas/fordistas contra os efeitos perversos da divisão entre trabalho intelectual e manu al, não vão além de uma crítica moralista; uma denúncia de fundo cristão.

3.2. EDUCAÇÃO: LENITIVO CONTRA AS DORES DO TRABALHO

Esse tipo de crítica não é diferente da que fazia Adam Smith, em 1776. Seu espírito cristão não podia deixar sua alma impassível diante do sofrimento dos trabalhadores, que passavam toda sua vida a executar uma mesma e única operação. Sem tempo para exercitarem seu espírito inventivo, de tão tosco e embrutecido pelo trabalho rotineiro e repetitivo, mal podiam participar de alguma conversação racional. Infelizmente, para Smith, esse era o preço a pagar pelo progresso. Afinal, entendia que a prosperidade e a riqueza das nações dependem do aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e em maior parte da habilidade e destreza dos trabalhadores. Quanto mais destros e hábeis fossem, mais produtivos se tornavam; mais ricas seriam as nações.
Disso ele não tinha dúvidas. Ao descrever as vantagens da divisão técnica do trabalho, enaltece os benefícios que essa divisão traz para o crescimento da riqueza nacional. Observa numa pequena manufatura de alfinetes, que

um operário não treinado para essa atividade (...) nem familiarizado com a utilização das máquinas ali empregadas (...), dificilmente poderia fazer fabricar um único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido em uma séria de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte constitui provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferente; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas (....). Vi uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados (...). Mas, embora não fossem muito hábeis (...), conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, uma libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se considerar que cada uma produzia 4.800 alfinetes diariamente. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro (...), certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1”[32].

Essas diversas operações, espacialmente separadas e conduzidas por grupos de trabalhadores diferentes, exigem uma função de direção para reunir as diversas atividades parcelares e, assim, garantir o melhor resultado final: a produção de um maior número possível de alfinetes. Muito embora se trate de função própria de todo e qualquer processo coletivo de trabalho, no capitalismo, ele é, antes de tudo, uma função de exploração, determinada pelo inevitável antagonismo entre o explorador e a matéria-prima de sua exploração: o trabalhador. Muito mais do que uma divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, a separação entre quem manda e quem executa é uma função de exploração. Se é assim, não é descabido imaginar que os supervisores da manufatura de alfinetes, talvez, nunca tenham produzido sequer uma agulha na vida. Sua função é a de garantir que cada trabalhador execute, no menor espaço de tempo, e com devida precisão, aquilo que só ele sabe fazer: polir, esticar, cortar, afinar etc.
Essa mesma lógica preside a manufatura do açúcar no Brasil colonial. Segundo Schuwartz, os cativos não produziam o açúcar; apenas o engenho o produzia; cada escravo repetia indefinidamente a mesma tarefa no processo de produção[33]. Apenas o mestre do açúcar e o feitor-mor acompanhavam e organizavam as diversas etapas do processo de trabalho do começo ao fim. Para tanto, quase ou nenhuma educação era requerida, apenas certa habilidade e destreza, obtidas por experiência[34]. Em muitos engenhos, como assim revela o excelente trabalho de Schwartz, a atividade do mestre do açúcar era desempenhada por escravos, geralmente trazidos das ilhas do Atlântico, onde aprenderam o ofício. Para ganhar sua confiança, principalmente daqueles ligados às ocupações mais importantes e “especializadas”, os senhores de engenhos criaram um sistema de punições e recompensas, que ia desde a concessão de terras para o plantio de pequenos roçados, passando pela distribuição de cotas de garapa e aguardente, até o pagamentos de salário[35].
A manufatura do açúcar não é diferente da manufatura de alfinetes. Pouco importa que o trabalho seja realizado por escravos ou homens livres. Tanto numa como noutra, o trabalhador é reduzido a uma verdadeira besta adestrada, que só se sente livremente ativo, quando realiza suas funções animais: comer, beber e procriar. Daí o protesto de Smith. Contra esse estado de coisas, levanta a voz, e num grito de indignação, deixa seu coração falar:

... a ocupação da maior parte daqueles que vivem do trabalho, isto é, a maioria da população, acaba restringindo-se a algumas operações extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas [...]. O homem que gasta toda sua vida executando algumas operações simples, cujos efeitos também são, não tem nenhuma oportunidade para exercitar sua compreensão ou para exercer seu espírito inventivo no sentido de encontrar meios para eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se geralmente tão embotado e ignorante quanto possa ser uma criatura humana. O entorpecimento de sua mente o torna tão somente incapaz de saborear ou ter alguma participação em toda conversação racional, mas também de conceber algum sentimento generoso, nobre ou terno, e, conseqüentemente de formar algum julgamento justo até mesmo acerca de muitas obrigações da vida privada [...]. Assim, a habilidade que ele adquiriu em sua ocupação específica parece ter sido adquirida às custas de suas virtudes intelectuais, sociais e marciais[36].


Apenas um grito de indignação contra o sofrimento alheio, diante do qual Smith pensava que nada se poderia fazer, a não ser resignar-se com a situação dessas pobres almas. E não sem razão, pois, para ele, esse é o estado em que ”inevitavelmente caem os trabalhadores pobres - isto é, a grande maioria da população”. A única coisa que se deveria fazer, segundo assim pensava, seria deixar ao governo a tarefa de tomar alguma providência para amenizar o embrutecimento mental dos trabalhadores. Mesmo assim, o Estado pouco podia fazer. Afinal, o autor de A Riqueza das Nações acreditava que os pobres, diferentemente dos ricos,
dispõem de pouco tempo para se dedicar à educação. Seus pais dificilmente têm condições de mantê-los, mesmo na infância. Tão logo sejam capazes de trabalhar, têm que ocupar-se com alguma atividade, para sua subsistência. Este tipo de atividade é geralmente muito simples e uniforme para dar-lhes pequenas oportunidades de exercitarem a mente; ao mesmo tempo, seu trabalho é tão constante e pesado que lhes deixa pouco lazer e menos inclinação para aplicar-se a qualquer outra coisa, ou mesmo para pensar nisso[37].

Muito embora tivesse consciência de que os pobres jamais teriam condição de desfrutar do mesmo padrão de educação dos ricos, julgava, porém, que poderiam

aprender as matérias mais essenciais da educação - ler, escrever e calcular - em idade tão jovem, que a maior parte, mesmo daqueles que precisam ser formadas para as ocupações mais humildes, têm tempo para aprendê-las antes de empregar-se em tais ocupações. Com gastos muito pequenos, o Estado pode facilitar, encorajar e até mesmo impor a quase toda população a necessidade de aprender os pontos mais essenciais da educação[38].

3.3. A MANUFATURA NOS TEMPOS DAS MÁQUINAS INTELIGENTES

(a) INDÚSTRIA, MÃE DA IGNORÂNCIA


Mais de dois séculos separam a época, em que A Riqueza da Nações veio a público, do mundo de hoje. De lá para cá, a sociedade capitalista passou por profundas transformações. O capital converteu o processo de trabalho em processo de produção. E foi mais longe ainda. Com a superação da grande indústria pela cooperação complexa, a produção da riqueza faz-se, mais do que nunca, pela compreensão da natureza, no sentido de que são as máquinas inteligentes, verdadeiras “forças de trabalho intelectuais”, que invadem e dominam todo o processo de produção. Até mesmo o mais simples processo de interação social é, agora, mediado pela tecnologia. Com efeito, as correspondências entre as pessoas não são mais redigidas pelo próprio punho de quem escreve. Isto é coisa do passado. Na época da tecnologia da informação e da comunicação, as pessoas comunicam-se por meio de cartas eletrônicas. Muitas nem mesmo de casa saem para descontar um cheque na “boca do caixa”, comprar seus livros, carros ou produtos dos supermercados. Fazem tudo isso pela Internet.

Teria, portanto, desaparecido para sempre o mundo em que viveu Smith? Que diria ele de tudo isso, se vivo hoje fosse? Poderia continuar a defender sua tese, segundo a qual ler, escrever e calcular era tudo de que necessitavam os trabalhadores? Infelizmente, tudo indica que a razão está com ele. Para interagirem e trabalharem nesse mundo, em que técnica e as ciências passaram a dominar todas as esferas da vida humana, as pessoas precisam tão-somente saber ler, escrever e calcular, como assim julgava o autor de A Riqueza das Nações. Prova disso é o fato de que,

hoje, a grande maioria das pessoas interage de forma diária, cotidiana, corriqueira, com alguma tecnologia da informação e da comunicação. Esta interação não se resume ao mero uso do telefone à passiva audiência de televisão. Também, num entre outros exemplos, o simples ato de sacar dinheiro em um banco numa caixa automático é um fato de telecomunicação. As pessoas, em geral, pouco ou nada sabem sobre como funcionam essas tecnologias: do ponto de vista técnico, é claro, não se poderia exigir isto, exceto dos engenheiros que as projetam e operam; mas, e do ponto de vista social mais amplo? Se não são especialistas (e, no Brasil, excetuando-se os profissionais das empresas de telecomunicações, os "especialistas" não passam de meia dúzia de economistas acadêmicos, sendo ainda mais raros sociólogos, historiadores e até mesmo comunicólogos que estudam de fato e seriamente, o tema), as pessoas, mesmo aquelas mais politizadas, pouco ou nada sabem do funcionamento das comunicações, enquanto meio através do qual é gerada, registrada e distribuída a informação, daí se obtendo valores econômicos e sociais que são acumulados e apropriados pelos diversos agentes[39].

Mundo de analfabetos é o que é a sociedade da tecnologia da informação e da comunicação. Nela, as pessoas vivem mergulhadas na mais profunda indigência científica, cultural e política que chega a beirar a idiotia. Melhor exemplo não poderiam oferecer os Estados Unidos. Nesse país, celeiro de prêmios Nobel, que comanda o destino do mundo, e que já enviou naves para os confins do Sistema Solar, 11% de sua população não sabem o que é uma molécula. E o que é pior: 44% dos americanos rejeitam o darwinismo e 52% ignoram que a terra gira ao redor do sol[40]. Pesquisas realizadas pelo astrônomo norte-americano, Carl Segan, revelam que o norte-americano vive num mundo em que impera a ignorância científica; uma sociedade, comenta ele, dominada pelo analfabetismo científico[41]. De acordo com seus estudos, 95% dos americanos são cientificamente analfabetos, não têm o mínimo conhecimento de como se dá a aplicação das leis da natureza aos processo de produção da riqueza[42]. E nem precisam saber, acrescente-se. As empresa não são o lugar da produção do conhecimento científico. Como visto antes, tal desenvolvimento acontece fora dos seus muros. Estas estão unicamente interessadas nos resultados produzidos pelas ciências; isto é, nas novas tecnologias, capazes de produzir máquinas inteligentes e de fácil operacionalização. Tão fáceis de operar que até mesmo um leigo em aeronavegação, com conhecimento mediano de computação, é capaz de pousar um avião supersônico. Afinal, trata-se de uma máquina produzida e programada para navegar praticamente sozinha.

Obviamente, não há com comparar o processo de produção da riqueza, hoje, com o da época da manufatura de alfinetes, analisada por Adam Smith. As ferramentas utilizadas pelos trabalhadores da manufatura, talvez, nem mais existam como peça de museu. Há muito foram substituídas por máquinas inteligentes, que trabalham, praticamente, sem a interferência do homem. Mas, se o conteúdo do processo de produção mudou, sua forma de produzir continua a obedecer à mesma lógica de sempre. Com efeito, o trabalhador da manufatura de Smith, que de tão especializado que era, não seria capaz de produzir, sozinho, um alfinete, não é muito diferente do trabalhador dos tempos da cooperação complexa. Como aquele, este precisa apenas de um conhecimento rudimentar, que lhe permita saber ler, escrever e calcular. Isso é mais do que suficiente para que a grande maioria dos trabalhadores possa operar as novas máquinas, verdadeiras forças de trabalho intelectuais. A fome insaciável do capital por mais-trabalho o obriga, antes de tudo, a encurtar o tempo de rotação do valor, para que possa transformar dinheiro em mercadoria e mercadoria em dinheiro, no menor espaço de tempo. Quanto menos demorado é esse movimento, mais rapidamente ele pode se valorizar. Ora, só há uma maneira de encurtar o tempo de rotação do capital: introduzir inovações tecnológicas que tornem o processo de produção o mais independente possível da mão e da mente do trabalhador, que, por sua natureza imperfeita, não é capaz de realizar movimentos uniformes e contínuos, tão perfeitos quantos os que são produzidos pelas máquinas.

Capital é dinheiro que gera dinheiro. Se pudessem, os capitalistas prefeririam vender suas mercadorias sem comprá-las e nem produzi-las. Infelizmente, não o podem fazer. Resta-lhes, portanto, eliminar os obstáculos que impedem seu capital de circular o mais rápido possível. O maior desses obstáculos, o capital encontra no homem, pois julga-o como o mais imperfeito instrumento de produção. Para superar suas deficiências, transforma-o, como já o fizera na manufatura, numa peça ajustada ao movimento do processo de produção. Assim como os trabalhadores da manufatura de alfinetes não os produziam, apenas o processo os fabricava, o mesmo acontece com os trabalhadores da cooperação complexa. Estes não passam, em sua grande maioria, de servidores de um “mecanismo inteligente” sobre o qual não têm nenhum controle ou domínio. Não são eles que produzem as mercadorias, mas, sim, as máquinas.

(b) COOPERAÇÃO COMPLEXA: IMAGEM INVERTIDA DA MANUFATURA


Como na manufatura, a grande industria exige uma distribuição dos trabalhadores em diversos postos de trabalho, cada um deles responsável pela produção de uma pequena parte do produto final. Mas há diferenças entre essas formas de produção de mercadorias. Se, na primeira, os trabalhadores eram distribuídos segundo sua especialidade, na segunda, são as máquinas que se especializam e não o trabalho. Trata-se, como dizia Marx, de uma distribuição de trabalhadores entre máquinas especializadas e não de uma divisão de trabalhadores especializados. Apesar de tais diferenças, tanto numa forma como noutra, não é o trabalhador que produz a mercadoria, mas, sim, o processo de produção comandado pelo capital.

A cooperação complexa leva às ultimas conseqüências esse processo de desvirtuamento do trabalho. É nessa forma de produção de mercadorias que as atividades dos trabalhadores tornam-se mais repetitivas, padronizadas e rotineiras. Com efeito, somente quando a máquina se transforma numa verdadeira “força de trabalho intelectual”, torna-se possível organizar o processo produtivo mediante um sistema de informação computadorizado, que permite corrigir os desequilíbrios da cadeia de produção, antes causados pela falta de sincronização entre as diversas etapas do processo de produção. Noutras palavras, a padronização e a sincronização do processo de trabalho só se tornam realidade num mundo dominado pela tecnologia da informação, condição necessária para planejar cientificamente todos os passos da cadeia de produção. É quando, então, o trabalho pode ser intensificado ao máximo, pois, agora, menos capacidade de raciocínio e de interferência é exigida dos trabalhadores. Estes podem, então, dedicar-se à simples tarefas de acompanhamento e monitoramento do sistema de produção.

Cai por terra a tese dos corifeus da consciência de ruptura, advogados da idéia do fim da padronização e da rotinização do processo de produção. Com efeito, sua defesa vai de encontro à lógica de funcionamento do sistema de produção de mercadorias. Realmente, se se reconhece que o processo de produção é dominado subjetivamente pelo trabalhador, porque este é portador de conhecimentos científicos, há que se admitir, então, a hipótese absurda de que os donos do capital não controlam mais suas empresas; estas estão, agora, nas mãos dos trabalhadores. São eles que passam a determinar o ritmo da produção e o nível de salários da economia, o que, convenha-se, é um grande contra-senso.


(c) EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: UMA AGENDA FORA DE LUGAR

Da cooperação simples, passando pela manufatura e a grande indústria, até chegar à cooperação complexa, o movimento da acumulação transforma o trabalho vivo num elemento cada vez mais desnecessário para a criação da riqueza. Este processo de superfluidade do trabalho, longe de significar simplesmente uma estratégia diabólica e perversa do capital contra o trabalho, é, na verdade, resultado de sua marcha inexorável para desenvolver as forças produtivas, para, assim, dominar completamente a natureza. Nessa marcha, foi tão longe a ponto de superar radicalmente as imperfeições do homem como instrumento de produção, ao transformá-lo num simples servidor das máquinas inteligentes. Nesse sentido, os programas de formação profissional aparecem como um verdadeiro contra-senso histórico, na medida em que pretendem fazer do trabalhador um instrumento de produção estratégico, justamente numa época em que o processo de trabalho já se transformou em processo de produção, e no qual o trabalho deixou de ser a sua unidade dominante. Mais do que um contra-senso histórico, trata-se de uma política obtusa, que faz vista grosa à lei geral da acumulação capitalista, cuja lógica é a de fazer com que as despesas de capital com trabalho morto cresçam proporcional e relativamente mais do que com os gastos realizados com sua parte variável. De mais a mais, a atuação dessa lei geral - o decréscimo da parte variável do capital, em confronto com o crescimento de sua parte constante[43] - traz como conseqüência direta a produção crescente de uma população trabalhadora excedente, que aumenta na medida em que avança a acumulação. O crescimento dessa massa excedente de trabalhadores nas últimas três décadas alcançou patamares tão elevados que há quem se apresse em dizer que o capitalismo vive o fim dos empregos[44]. Nessas condições, o raio de alcance dos programas de formação profissional é bastante limitado. Daí um certo ceticismo quanto à eficiência dos programas de formação profissional, que, segundo Azeredo,

não existem evidências sólidas que permitam afirmar que, sempre e em qualquer caso, os programas de formação são eficientes e eficazes para reduzir a vulnerabilidade ao desemprego e elevar os salários dos beneficiários’. Também o relatório de desenvolvimento do Banco Mundial, de 1995, [...] aponta para as mesmas conclusões - ou não-conclusões - ao afirmar que ‘os resultados são mistos no que diz respeito ao valor do treinamento para ajudar os trabalhadores desempregados a encontrar novas colocações’[45].

Se há dúvidas quanto à eficiência dos programas de formação profissional, uma coisa pelo menos é certa: sua generalização é absolutamente inviável, porque isto esbarra nos limites da capacidade de financiamento do Estado. Os recursos estatais são sempre limitados, principalmente numa situação em que o desemprego atinge taxas expressivas. Como exemplo, convém citar o caso dos Estados Unidos. Segundo Kapstein (1996)[46], este país gasta atualmente cerca de US$ 10 bilhões por ano em ensino profissionalizante e treinamento. Este país precisaria gastar anualmente cerca de US$ 49 bilhões para cobrir seus 7 milhões de desempregados, o que, diga-se de passagem, é algo irrealizável.

Não há muito que se fazer numa época em que o capitalismo parece ter atingido os limites históricos do seu desenvolvimento. Numa época em que o capital fez da superfluidade do trabalho a razão da acumulação, ao superar as imperfeições do homem como instrumento de produção, substituindo-o por máquinas inteligentes, verdadeiras forças de trabalho intelectuais, é bom ouvir o que diz Celso Furtado, um teórico do desenvolvimento, que terminou sua vida, infelizmente, sem muitas esperanças quanto ao futuro do trabalho. Facultando-lhe a palavra, com certa amargura, reconhece que

hoje, mesmo na Europa, não se vê horizonte para uma relativa harmonia baseada no pleno emprego. Para manter o nível de agressividade das economias capitalistas tornou-se necessário abandonar as políticas de emprego. O aumento de produtividade se desassociou de efeitos sociais benéficos. Esta é a maior mutação que vejo nas economias capitalistas contemporâneas”.

Infelizmente, ele não está só. Juan Somavia, diretor geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), não acredita que o crescimento econômico possa gerar postos de trabalho suficientes para acabar com o desemprego. Segundo ele, em 2004, a taxa de crescimento da economia mundial, que foi da ordem de 5,1%, resultou apenas num aumento de 1,8% no número de pessoas ocupadas. Mas isso ainda não traduz toda questão. Até 2015, argumenta Somavia,

cerca de 400 milhões de pessoas se incorporarão à força de trabalho. Isto quer dizer que mesmo que se consiga um crescimento acelerado do emprego para produzir 40 milhões de postos por ano, a taxa de desemprego baixaria apenas 1% em 10 anos[47].
Deve-se, então, cruzar os braços, e deixar que as coisas sigam seu curso fatalista? Se não se pretende esperar a morte chegar com a boca escancarada, cheia de dentes, como assim falava o poeta Raul Seixas, só há uma saída: reinventar a política, não para receitar paliativos para a miséria, próprios dos programas de micro-créditos e outros do gênero. É preciso voltar a pensar grande, pois a dimensão da crise não cabe mais dentro dos olhos e dos orçamentos públicos.
[1] Engels, Friedrich. Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem. – São Paulo: Editora Alfa-Omega. Obras Escolhidas, Vol. 2; p. 276: “Mas a influência duradoura dos animais sobre a natureza que os rodeia é inteiramente involuntária e constitui, no que se refere aos animais, um fato acidental. Mas, quanto mais os homens se afastam dos animais, mas sua influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem dar-se conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará as várias vezes o semeado por eles. O homem translada de um país para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes, sofrem tal influência da mão do homem que se tornam irreconhecíveis. Não foram até hoje encontrados os antepassados silvestres de nossos cultivos cerealistas”.
[2] Bacon, Francis. Novum organum ou Vredadeiras indicações acerca da interpretação da natureza; Nova Atlântida. – 3. ed. – São Paulo: Abril Cultural, 1984; p. 93: engendrar e introduzir nova natureza ou novas naturezas em um corpo dado, tal é a obra e o fito do poder humano. E a obra e o fito da ciência humana é descobrir a forma de uma natureza dada ou a sua verdadeira diferença ou natureza naturante ou fonte de emanação.
[3] Francis Bacon, Apud Adorno, Theodor W. Conceito de Iluminismo. – São Paulo: Nova Cultural, 1999; p. 19 (Textos Escolhidos).
[4] Marx, Karl. Elementos Fundamentales para la Crítica de la Economía Política: borrador 1857-1858. – México: Siglo Veintiuno Editores, 1987; Vol. II; p. 227/28 (As expressões entre colchetes foram acrescentadas para tornar a citação mais clara).
[5] Fausto, Ruy. A “Pós-Grande Indústria” Nos Grundrisse (E Para Além Deles). São Paulo: Lua Nova: Revista de Cultura e Política, Novembro de 1989, nº 19., p. 58/9.
[6] Segundo Fausto, “se é verdade que Marx não afirma que com a pós-grande indústria (e antes da revolução) possa haver verdadeira libertação, ele supõe nesse estágio o fim da subordinação material do trabalho ao capital (...). Marx crê que a espiritualização do objeto implica numa libertação (que, bem entendido, é para ele apenas libertação material, isto é, no interior do processo de trabalho ...)”. Contra Marx, Fausto afirma que “a transformação da natureza em ‘espírito’ não garante a libertação, mesmo a libertação material, isto é, a que se dá no processo de trabalho. Essa transformação pode ser uma condição da libertação material (Marx parece afirmar que ela pode ser condição da liberdade no plano da forma, mas que ela é condição suficiente de libertação no plano material)” [Fausto, Ruy. Op. cit., p. 61].
[7] Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. 2. ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1988, Livro I, Vol.II., p. 13: “Na manufatura, trabalhadores precisam, individualmente ou em grupos, executar cada processo parcial específico com sua ferramenta manual. Embora o trabalhador seja adequado ao processo, também o processo é adaptado antes ao trabalhador. Esse princípio subjetivo da divisão é suprimido na produção mecanizada. O processo global é aqui considerado objetivamente, em si e por si, analisado em suas fases constituintes, e o problema de levar a cabo cada processo parcial e de combinar os diversos processos parciais é resolvido por meio da aplicação técnica da Mecânica, Química etc...”.
[8] Comparando o processo de trabalho na grande Indústria com o da manufatura, que lhe antecede na sucessão histórica das formas de produção de mercadorias, Marx observa que, no sistema articulado de máquinas, “a atividade do trabalhador, reduzida a uma mera abstração da atividade, é determinada e regulada, em todos os seus aspectos, pelo movimento da maquinaria, e não o contrário. [É] a ciência que obriga os membros inanimados da máquina (...) a operar como um autômato”. Nessas condições, conclui que “o processo de produção deixa de ser processo de trabalho, no sentido de ser controlado pelo trabalho como unidade dominante [como o era na manufatura]”. [Grundrisse (Borrador), Volume II, op. cit. p. 219].
[9] Moraes Neto de, Benedito Rodrigues. Notas sobre Marx e o processo de trabalho no final do século. Araraquara -SP: UNESP (mimeo). Trabalho apresentado no V Encontro Nacional de Economia Política em Fortaleza/Junho de 2000; p. sn: “Adam Smith é o teórico por excelência da manufatura; portanto, a desqualificação do trabalho para ele implica em incorporação “massiva” de trabalho simples, parcelado, desqualificado. Em Marx, o que se observa, com a introdução da máquina, é um processo de cientificização, de objetivação do processo de trabalho, que faz com que o mesmo passe a ser uma “aplicação tecnológica da ciência”. Essa noção fundamental de Marx implica no fato de que o trabalho vivo imediatamente aplicado à produção passa a ser “apendicizado”, ou seja, amplamente desqualificado, na medida em que o processo de separação entre concepção e execução teria chegado a um auge, mas – e isto é muito importante – não só desqualificado, como já o era em grande medida na manufatura, mas fundamentalmente supérfluo. A idéia da superfluidade do trabalho vivo constitui uma contribuição fundamental de Marx para o estudo do processo de trabalho tipicamente capitalista. Observa-se, então, com o recurso da maquinaria, aquilo que Marx chamou de “superação da barreira orgânica”, ou seja, uma superação radical do homem como instrumento de produção. A esse respeito, vale destacar uma frase muito feliz de Marx, quando afirma ser o homem “um instrumento muito imperfeito de produção quando se trata de conseguir movimentos uniformes e contínuos”. Nos Grundrisse, Marx afirma que, a partir da constituição das bases técnicas especificamente capitalistas, o processo produtivo deixaria de ser um processo de trabalho, no sentido de que o trabalho deixaria de ser a unidade dominante”.
[10] Idem, Ibidem., p. 229.
[11] Marx, Karl. Gruncrisse..., Vol. II., p. 221.
[12] Idem. Ibidem., p. 230 (os grifos são por nossa conta).
[13] Por rotação do capital deve-se entender "o tempo em que o capital industrial percorre suas três formas, desde o momento em que ele foi adiantado como capital-dinheiro até seu regresso a essa mesma forma. Ou, nas palavras de Marx, a rotação do capital ' é o período em que o valor-capital se move, a partir do momento em que é adiantado sob determinada forma até o momento em que volta à mesma forma' " [Teixeira, Francisco José Soares. Pensando com Marx., op. cit. , p. 220].
[14][Dantas, Marcos. A lógica do capital-informação: a fragmentação dos monopólios e a monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais. - Rio de Janeiro: Contraponto, 1996, op. cit. p. 31]: "O processo de produção deixou de ser apenas aquilo que se realiza dentro das fábricas, seja no escritório, conforme o entende uma tradição que remonta a Smith e Marx. Realiza-se também nos lares, nas ruas, nos espaços públicos de entretenimento, nas escolas, em todo lugar onde o indivíduo social é adestrado para se incorporar a uma rotina produtiva qualquer e, ao mesmo tempo, dialeticamente, é construído para desejar usar o produto que, socialmente , ajudou a fabricar".
[15] Salm, Cládio. As Relações Entre Capitalismo e Educação: Prolegômenos; in A Maquina e o Equilibrista: Inovações na Indústria Automobilística Brasileira / Nádia Araújo de Castro (org). – São Paulo: Paz e Terra, 1995; p. 153.
[16] Idem, Ibidem., p. 153.
[17] Idem, Ibidem., p. 153/4.
[18] Hammer, Michael & Champy, James. Reengenharia: revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência - Rio de Janeiro, Campus, 1994, p. 35: "... as empresas e seus empregados precisam desaprender muitos dos princípios e das técnicas responsáveis, por tanto tempo, pelo seu sucesso [...]. Começar de novo de um folha de papel em branco. [Devem-se] rejeitar a sabedoria convencional e as suposições herdadas do passado [...] A tradição de nada vale".
[19] Ver Toffler, Alvin. A terceira onda: morte do industrialismo e o nascimento de uma nova civilização- 15. Edição. Rio de Janeiro, Record, s.d
[20] Taylor, Frederick Winslow. Princípios de Administração científica. São Paulo: Editora Atlas, 1963. p. 42/45 “Cronometramos e estudamos cuidadosamente os 75 carregadores, durante 3 a 4 dias, ao fim dos quais separamos quatro homens que pareciam ser fisicamente capazes de carregar barras de ferro na proporção de 47 toneladas por dia. Foi feito, então, o estudo apurado de cada um destes homens: investigamos seu passado, tanto quanto possível, e fizemos um inquérito completo a respeito do caráter, dos hábitos e ambições de cada um. Finalmente dos quatro, escolhemos um, como o mais apto para começar. Era um pequeno holandês, vindo da Pensilvânia. (...) Soubemos que com que seu salário de $ 1,15 dólar por dia, ele tinha conseguido comprar um pequeno terreno e se empenhava em construir uma casinha própria. (...) Uma pessoa com quem conversamos, disse-nos a respeito dele: Um centavo parece-lhe tão grande como uma roda de carroça. Chamaremos esse homem de Schimidt. (...) Schimidt começou a trabalhar. Durante o dia todo e a intervalos regulares, o homem que o orientava com um relógio na mão lhe dizia: Agora, levante o lingote e ande. Agora, sente-se e descanse. Agora, ande, agora, descanse, etc. Ele trabalhava e descansava quando mandado, e as 5 2 da tarde tinha colocado no vagão 47 2 toneladas. Praticamente nunca falhou, trabalhando neste ritmo e fazendo a tarefa, que lhe foi determinada. (...) Assim, ele recebeu salários 60% mais elevado do que eram pagos a outros homens que não trabalhavam no sistema de tarefa”
[21] Drucker, Peter. Sociedade pós-capitalista - São Paulo: Pioneira, 1983. P. XV: “o fator de produção mais importante “não é o capital, a terra ou a mão-de-obra. É o conhecimento. Ao invés de capitalistas e trabalhadores, as classes da sociedade pós-capitalista são os trabalhadores do conhecimento e os trabalhadores em serviços”.
[22] Um excelente texto que analisa o papel da contingência em Marx é o livro de Grespan, Jorge Luis da Silva. O Negativo do Capital: conceito de crise na crítica de Marx à economia política. – São Paulo: Editora Hucitec, 1999.
[23] A necessidade de controlar toda a cadeia de valor, obriga as “companhias industriais , a concentração de grandes capitais no comércio atacadista (as centrais de compras) e varejista (as lojas de departamento, os supermercados e sobretudo os hipermercados )o que representa uma ameaça aos seus próprios lucros. A parcela de lucro que uma companhia industrial pode perder quando grupos muito fortes, em situação de oligopsônio (...), estão em condição de impor condições para se ter acesso á demanda final, é um parâmetro que afeta, de forma significativa, as condições de valorização do capital" (...). "A atividade dos grupos predominantemente industriais na internacionalização financeira não-bancária responde, igualmente, à preocupação de reduzir o risco de sofrer punções sensíveis nos fluxos de valor (...). Da mesma forma, na indústria automobílistica, os grandes grupos preferiram, muitas vezes, criar suas próprias firmas de financiamento, para a organização de leasing e outras modalidades de sustentação das vendas, em vez de recorrer ao setor bancário" [Chesnais, François. A Mundialização do Capital - São Paulo: Xamã, 1996 (p.191/2].

[24] Na perspectiva da sua totalidade, o movimento de valorização do capital assume diversas formas. Na circulação " ... assume duas formas, a do capital-dinheiro e a do capital-mercadoria; no estágio de produção, a forma de capital produtivo. O capital que no decurso do seu ciclo ora assume ora abandona essas formas, executando através de cada uma delas a função correspondente, é o capital industrial (....), no sentido de abranger todo ramo de produção explorado segundo o modo capitalista" [Marx, Karl. O Capital. op. cit. Livro II., p. 53].
[25] Aristóteles. Política. - Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1977; p. 15: "... a natureza de uma coisa é o seu estágio final, porquanto o que cada coisa é quando o seu crescimento se completa nós chamamos de natureza de cada coisa, que falemos de um homem, de um cavalo ou de uma família"
[26] Para uma análise mais cuidadosa do conceito e cooperação complexa, ver Teixeira, Francisco José Soares. Cooperação Complexa: forma limite do capital. – Fortaleza (Mimeo), 2004.
[27] Marx, Karl. O Capital... op. cit. Liv. II (3. ed)., p. 165.
[28] Habermas, Jürgen. – Ciência e Técnica como Ideologia. – Lisboa: Edições 70, 1968.
[29] Oliveira, Francisco de. O Surgimento do Antivalor, in Os Direitos do Antivalor: a economia política da hegemonia imperfeita. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1998., p. 31/32: “O que torna o fundo público estrutural e insubstituível no processo de acumulação de capital, atuando nas duas pontas de sua constituição, é que sua mediação é absolutamente necessária pelo fato de que, tendo desatado o capital de suas determinações autovalorizáveis , detonou um agigantamento das forças produtivas de tal forma q ue o lucro capitalista é absolutamente insuficiente para dar forma, concretizar, as novas possibilidades de progresso técnico abertas. Isto somente se torna possível apropriando parcelas crescentes da riqueza pública em geral, ou mais especificamente, os recursos públicos que tornam a forma estatal nas economias e sociedades capitalistas”.
[30] Humphrey, John. Os impactos das Técnicas “japonesas” de Administração Sobre o Trabalho Industrial no Brasil, in A Máquina e o Equilibrista... op. cit. p. 119]:”Portanto, o sistema JIT/CQT claramente manifesta aspectos contraditórios (...). Ao mesmo tempo, porém, o trabalho no JIT/CQT pode de mostrar muito exigente e não representa o fim das tarefas rotineiras e repetitivas exprimidas em horários apertados”.
[31] Posthuma, Anne Caroline. Técnicas Japonesas de Organização nas Empresas de Autopeças no Brasil, in A Máquina e o Equilibrista... op. cit. p. 305/6]: “Como seu nome sugere, o controle estatístico de processo (CEP) aplica métodos estatísticos para medir e monitorar um produto enquanto está sendo manufaturado, para assegurar que esse produto seja produzido de acordo com as especificações preestabelecidas de qualidade. Quando as medições indicam que as peças estão extrapolando os padrões aceitáveis, a máquina deverá ser reajustada antes de reiniciar suas operações. Esse procedimento é efetuado num determinado número de peças, dependendo de certas características. O operador da máquina na estação de trabalho coleta dados sobre a fabricação das peças, calcula médias e preenche um cartão de CEP, posteriormente enviado para análise ao departamento de controle de qualidade”.
[32] Smith, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas- 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. Liv. I., p. 41/42.
[33] Schwartz, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. – São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 138: “O fabrico do açúcar era uma atividade complexa,mas cada parte do processo era simplificada para o trabalhador individual em uma série de tarefas distintas. Apenas o mestre do açúcar e o feitor-mor tinham de acompanhar e organizar todas as etapas do começo ao fim. As séries de tarefas necessárias à produção do açúcar eram executadas individualmente, mas integravam-se ao próprio processo, sendo ‘sucessivas no tempo e simultâneas no espaço. A utilização de grande número de trabalhadores em turnos no canavial e na fábrica nivelava as diferenças em habilidades, de modo que o resultado final era um produto relativamente homogêneo ou, como denominou Marx, ‘trabalho de qualidade social média’. Nesse aspecto, o engenho foi o precursor da fábrica moderna”.
[34] Idem. Ibidem., p.140: “tais ocupações não requeriam educação especial, apenas experiência, habilidade e disposição para assumir funções de supervisão”.
[35] Idem. Ibidem. P. 140-43.
[36] Idem., Ibidem., Vol. II., p. 213/14.
[37] Idem, Ibidem., p. 215.
[38] Idem. Ibidem., p. 215.
[39] Dantas, Marcos. Op. cit, p. 15.
[40] Revista Planeta. Edição 403, ano 33, abril de 2006., p. 28/29].
[41] Sagan, Carl. O Mundo Assombrado pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. – São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 20: “Em todo o mundo, existe um enorme número de pessoas inteligentes e até talentosas que nutrem uma paixão pela ciência. Mas essa paixão não é correspondida. Os levantamentos sugerem que 95% dos norte-americanos são cientificamente analfabetos. A porcentagem é exatamente igual à afro-americana, quase todos escravos, que eram analfabetos pouco antes da guerra civil – quando havia penalidades severas para quem ensinasse um escravo a ler”.
[42] Como assim adverte Sagan, “é perigoso e temerário que o cidadão médio continue a ignorar o aquecimento global, por exemplo, ou a diminuição da camada de ozônio, a poluição do ar, o lixo tóxico e radiativo, a chuva ácida, a erosão da camada superior do solo, desflorestamento tropical, o crescimento exponencial da população” [Segan, Carl. op. cit. p. 21].
[43] Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política - São Paulo: Nova Cultural, 1985; Liv. I; Vol. II.

[44] Rifkin, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global do trabalho - São Paulo: Makron Bokoos, 1995.
[45] Azeredo, Beatriz. Políticas públicas de emprego: limites e possibilidades, - Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA; 1997.
[46] Idem, ibidem ; citado por Azeredo, Beatriz.
[47] Somavia, Juan. A Geração do Milênio procura trabalho para superar a pobreza. Artigo disponível no site da oit: www.oitbrasil.org.br/news.

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